“Não podemos construir uma democracia substantiva sem abraçar o pluralismo social”, afirma Adilson Moreira

Professor e escritor foi o convidado do Webinário Antidiscriminação, promovido pela Anamatra

“Não podemos construir uma democracia substantiva sem abraçar o pluralismo social e implementar medidas que garantam o desenvolvimento do cidadão e da cidadã”. A afirmação é do doutor em Direito Constitucional Comparado pela Faculdade de Direito da Universidade de Harvard Adilson Moreira. Estudioso envolvido com a temática da antidiscriminação, com livros publicados sobre a matéria, o especialista foi o convidado da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), nesta quinta, (10/12), em webinário dedicado a debater o tema, transmitido nas redes sociais da entidade (Youtube, Facebook e Instagram).

O evento foi aberto pela presidente da Anamatra, Noemia Porto, que ressaltou a grave desigualdade social encontrada no Brasil, acentuada a partir da perspectiva racial e agravada quando entrelaçada ao enfoque de gênero, especialmente pela ausência de medidas efetivas de combate. “A escravidão histórica continua a deixar marcas no Brasil, não se vislumbrando qualquer movimento que possa ser considerado substancial e suficiente em torno de políticas públicas que sejam capazes de alterar esse cenário”, lamentou.

O professor fez uma apresentação detalhada sobre a temática do Direito Antiscriminatório, abordado em seu último livro “Tratado de Direito Antidiscriminatório”, obra que reflete a necessidade de análise e sistematização dos diversos conteúdos de uma disciplina jurídica que, segundo o autor, é de extrema importância para a consolidação e o avanço de uma cultura democrática no país e para a “emancipação social”. Nessa linha, foram abordados aspectos como a conceituação; normas jurídicas referentes à igualdade; teorias, doutrinas e jurisprudências sobre formas de discriminação; medidas destinadas à integração de minorias e reflexões sobre a democracia pluralista e participativa.

Segundo Moreira, a disciplina Direito Antidiscriminatório surgiu e se consolidou ao longo de 70 anos e está relacionada a mudanças importantes no constitucionalismo moderno e também na própria história da sociedade, tendo como elemento mais importante a luta de grupos minoritários por níveis maiores de proteção social e justiça. “Estamos falando da luta de negros por maiores níveis de igualdade racial, das mulheres, de minorias sexuais, entre outros grupos”. O professor observou que, ao longo desse tempo, os sistemas do Judiciário, Legislativo e Executivo implementaram uma série de normas para garantir a devida proteção a esses grupos. “Essas normas são a base do Direito Antidiscriminatório, que congrega normas constitucionais e infraconstitucionais que formam um sistema protetivo direcionado à inclusão dos grupos tradicionalmente discriminados e marginalizados”.

O professor falou das normas jurídicas que integram o Direito Antidiscriminatório, sendo a principal delas o direito à igualdade, além dos demais direitos fundamentais, os princípios estruturantes e as normas programáticas. A função estatal também foi enaltecida pelo expositor, que falou da importância do Estado como garante da proteção das minorias. “Não podemos compreender a dinâmica dessa disciplina, desse campo do Direito Constitucional sem pensarmos o Estado dessa maneira. As instituições estatais existem para promover a inclusão social”.

Também fez parte da explanação inicial do professor a análise das transformações teóricas do conceito de igualdade: igualdade formal, igualdade utilitarista, igualdade material, igualdade de oportunidades, igualdade de resultados, igualdade e cidadania moral, igualdade relacional e igualdade e capacidade. “Há uma evolução de uma concepção individualista da igualdade para uma concepção preocupada com a igualdade entre grupos e de status social”. Essa evolução, explicou, está diretamente relacionada, também, com a modificação do entendimento do que é discriminação, com a concepção mais atual de que processos de exclusão social operam, independentemente, da vontade de indivíduos particulares.

O webinário teve formato de roda de debates e contou com a participação, além do convidado e de dirigentes da Anamatra, dos juízes André Luís Nacer de Souza (TRT 24/MS), André Villela (TRT 1/RJ), Ângela Konrath (TRT 12/SC) e Gabriela Lenz de Lacerda (TRT 4/RS). Entre as temáticas debatidas  no evento estiveram a desconstrução do pressuposto de neutralidade do(a) magistrado(a), psicologia social da discriminação, solidariedade negra, “color blind”, ações afirmativas, sexismo, precarização nas relações de trabalho, entre outros.

Ao final do debate, o diretor Marcus Barberino, a quem também coube a condução do evento, agradeceu a todos os integrantes da Comissão de Direitos Humanos da Anamatra pelo importante trabalho realizado, especialmente em um ano tão difícil para toda a humanidade, especialmente para a sociedade brasileira, que viveu uma crise sanitária e humanitária. Barberino agradeceu, ainda, a rica participação do professor Adilson. “Tivemos uma tarde divertida e instigante, falando da discriminação, do direito constitucional e da convivência institucional. O professor percorreu várias dimensões do conhecimento humano, nos dando a oportunidade de falar, por diversos ângulos, dessa trajetória do Brasil em torno do racismo institucional brasileiro”, destacou.

Confira a íntegra do evento no canal da TV Anamatra no Youtube:

Receba nossa newsletter

SHS Qd. 06 Bl. E Conj. A - Salas 602 a 608 - Ed. Business Center Park Brasil 21 CEP: 70316-000 - Brasília/DF
+55 61 3322-0266
Encarregado para fins de LGPD
Dr. Marco Aurélio Marsiglia Treviso
Diretor de Assuntos Legislativos da Anamatra
Utilizamos cookies para funções específicas

Armazenamos cookies temporariamente com dados técnicos para garantir uma boa experiência de navegação. Nesse processo, nenhuma informação pessoal é armazenada sem seu consenso. Caso rejeite a gravação destes cookies, algumas funcionalidades poderão deixar de funcionar.