“É preciso revisitar a história e reconhecer as injustiças praticadas contra a população negra”, declara presidente da Anamatra

Fernando Frazão/Agência Brasil

Dia da Consciência Negra chama à reflexão sobre a realidade do preconceito e do racismo no Brasil

No Brasil, 20 de novembro é a data em que se celebra o Dia da Consciência Negra, mas a questão é: há mesmo algo para celebrar? Dedicada à reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira, a data foi oficialmente instituída pela Lei nº 12.519, de 10 de novembro de 2011, sendo declarada feriado em cerca de mil cidades em todo o Brasil.

O Brasil é o segundo país com a maior população negra do mundo, ficando atrás somente da Nigéria. Os negros, no Brasil, correspondem a 54% da população, cerca de 114 milhões de pessoas. Em que pese o expressivo número, os dados mostram que os negros ainda sofrem com os estigmas do passado, com o racismo e o preconceito. O negro, principalmente o residente ou oriundo das periferias, mesmo com as recentes políticas públicas, ainda é muito marginalizado no Brasil.

Segundo pesquisa realizada pela Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e pelo Senado Federal, 56% da população brasileira concorda com a afirmação de que “a morte violenta de um jovem negro choca menos a sociedade do que a morte de um jovem branco”. O dado revela como os brasileiros têm sido indiferentes a um problema que deveria ser de todos.

A pesquisa também demonstrou que, das 4.222 pessoas mortas em decorrência de intervenção policial, 76,2% eram negras. A maior parte de vítimas é composta de homens, mas os números relacionados a feminicídios entre negras são também alarmantes. Nos últimos dez anos, os números de assassinatos caíram 8% entre as mulheres brancas, mas aumentaram 15,4% entre as negras.

Para o juiz Guilherme Feliciano, presidente da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), a discriminação em razão da raça e ou da cor da pele é uma chaga que acompanha a civilização brasileira desde o Brasil Colônia. “Em 1888, tivemos a abolição formal do regime jurídico de escravidão, mas, como bem se sabe, a escravidão seguiu grassando no Brasil, nas cidades e nos campos, em guetos e fora deles, até que finalmente em 1955, o Governo brasileiro admitiu a sobrevivência desta mazela, a despeito da sua erradicação formal”, afirma. Para o presidente, no Dia da Consciência Negra, “é preciso revisitar a história e reconhecer as injustiças praticadas contra a população negra, à margem da lei e, em longo período, sob os auspícios dela, o que é por tudo lamentável”.

Desigualdade no mercado de trabalho - A diretora de Cidadania e Direitos Humanos, Luciana Conforti, recorda que o Dia da Consciência Negra relembra a luta de Zumbi dos Palmares e dos negros contra a escravidão. "Na contemporaneidade, a data é de extrema relevância para que repensemos as políticas públicas voltadas ao mercado de trabalho de negros e negras, considerando o maior índice de desemprego e o recebimento de salários inferiores, principalmente pelas mulheres negras", ressalta.

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). demonstra que a diferença salarial média entre uma mulher negra e um homem branco é de 60% podendo chegar a 80% em alguns cargos. Entre homens e mulheres em geral, a diferença é de 30%.  A pesquisa alerta, também, que, em tempos de crise, a tendência é que as desigualdades se aprofundem, como é o caso do desemprego. A falta de trabalho atinge de maneira mais severa a população preta, seguida a parda e, por fim, a branca.

Receba nossa newsletter

SHS Qd. 06 Bl. E Conj. A - Salas 602 a 608 - Ed. Business Center Park Brasil 21 CEP: 70316-000 - Brasília/DF
+55 61 3322-0266
Encarregado para fins de LGPD
Dr. Marco Aurélio Marsiglia Treviso
Diretor de Assuntos Legislativos da Anamatra
Utilizamos cookies para funções específicas

Armazenamos cookies temporariamente com dados técnicos para garantir uma boa experiência de navegação. Nesse processo, nenhuma informação pessoal é armazenada sem seu consenso. Caso rejeite a gravação destes cookies, algumas funcionalidades poderão deixar de funcionar.