Magistrados brasileiros conhecem organização Judiciária de Portugal

6º Congresso Internacional da Anamatra termina amanhã (18/3) e reúne cerca de 120 juízes do Trabalho brasileiros

Oferecer aos magistrados brasileiros um panorama sobre o funcionamento do Poder Judiciário em Portugal. Esse foi o objetivo do juiz de Direito Joel Timóteo Ramos Pereira, adjunto do gabinete de apoio do Conselho Superior da Magistratura, e do juiz desembargador do Tribunal de Relação de Coimbra Luis Miguel Ferreira Azevedo Mendes ao encerrar as atividades científicas desta quinta-feira (17/3) do 6º Congresso Internacional da Anamatra.  A mesa de debates foi presidida pelo presidente da Amatra 1 (RJ), André Bittencourt Villela.

Ao iniciar a discussão, o juiz Timóteo Pereira fez uma exposição detalhada do funcionamento da organização política em Portugal, incluindo a divisão dos Poderes e as precedências protocolares do Estado. No âmbito do Poder Judiciário, explicou as subdivisões dentro das primeira e segunda instâncias, bem como da instância superior: Tribunal Constitucional e Supremo Tribunal de Justiça, esse  último restrito às matérias de direito e não  de fato. (clique aqui para ler a apresentação do juiz)

O jurista ressaltou a prevalência das decisões judiciais sobre as de quaisquer autoridades, bem como a obrigatoriedade das mesmas para todas as entidades públicas e privadas. O palestrante pormenorizou a divisão do sistema português, onde há uma separação entre os tribunais de judiciais (comuns) e os de competência administrativa e fiscal, além do Tribunal de Contas e dos Julgados de Paz (instância facultativa para solução de questões de natureza cível). Os Tribunais do Trabalho, explicou o painelista, estão inseridos dentro dos de competência especializada dos tribunais judiciais.

A questão da gestão, inspeção e disciplina do Poder Judiciário foi outro ponto abordado pelo painelista. Em Portugal, há três Conselhos: Conselho Superior da Magistratura, Conselho Superior do Ministério Público (o MP integra o Judiciário em Portugal) e o Conselho dos Oficiais de Justiça (inspeção dos servidores).

A especificidade do Ministério Público em Portugal foi outro ponto abordado por Timóteo Pereira. “Ao Ministério Público compete representar o Estado e defender os interesses que a lei determinar, bem como, nos termos da lei, participar na execução da política criminal definida pelos órgãos de soberania, exercer a ação penal orientada pelo princípio da legalidade e defender a legalidade democrática”, disse, ao resaltar também que o órgão goza de  estatuto próprio e de autonomia.

Justiça do Trabalho
O juiz desembargador do Tribunal de Relação de Coimbra Luis Miguel Ferreira Azevedo Mendes fez uma explanação sobre a organização da Justiça do Trabalho em Portugal e falou também das reformas da organização Judiciária Portuguesa. (clique aqui para ler a apresentação do desembargador)

Segundo ele, há uma diferença substancial entre o Poder Judiciário brasileiro e o português. “O Brasil organizou-se a partir da ideia da Constituição e nós estamos construindo a partir da reflexão da organização judiciária, do dia a dia, da prática e das novas funções que vêm sendo introduzidas”, explicou, ao destacar que essa diferença é uma tradição na só portuguesa, mas de toda a Europa.

O magistrado falou da origem da Justiça do Trabalho em Portugal, ainda no Estado Novo, quando havia uma dependência ao Executivo e um único grau de recurso das decisões – o Supremo Tribunal Administrativo. “Os tribunais do trabalho, ao contrário dos outros, estavam completamente dependentes. Os juízes eram nomeados pelo Ministro e fiscalizados por estruturas do Ministério das Corporações”, explicou. Essa realidade só viria a ser alterada após a revolução democrática de 1974 que passou a colocar os tribunais do trabalho inseridos nos judiciais e com cobertura em todo o território nacional. Além disso, extinguiu as comissões de conciliação. 

O desembargador  também comentou as inovações pelas quais o Poder Judiciário vem passando em Portugal, com um novo foco. “Hoje, temos de entender o papel dos tribunais no sistema político, como órgãos que lidam com a questão das normas, da gestão e da competência e com desenho para objetivos de eficiência social claros”, disse, ao ressaltar o grande interesse público na questão da administração da justiça. 

Ao final de sua exposição, citou as reformas que o Poder Judiciário português vem passando desde 2008 de forma experimental e por fases em comarcas-piloto. “Mas a reforma é cara e sem dinheiro não é possível fazê-la sem dano para as organizações”, alertou. A reforma portuguesa abrange os seguintes aspectos: novo modelo de competência, nova matriz territorial e novo modelo de gestão.

Receba nossa newsletter

SHS Qd. 06 Bl. E Conj. A - Salas 602 a 608 - Ed. Business Center Park Brasil 21 CEP: 70316-000 - Brasília/DF
+55 61 3322-0266
Encarregado para fins de LGPD
Dr. Marco Aurélio Marsiglia Treviso
Diretor de Assuntos Legislativos da Anamatra
Utilizamos cookies para funções específicas

Armazenamos cookies temporariamente com dados técnicos para garantir uma boa experiência de navegação. Nesse processo, nenhuma informação pessoal é armazenada sem seu consenso. Caso rejeite a gravação destes cookies, algumas funcionalidades poderão deixar de funcionar.